terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Níveis de linguagem


Texto de apoio sobre Linguagem coloquial e linguagem culta

 Em determinadas situações nem sempre é possível a informalidade, é preciso atentar e obedecer as regras gramaticais e usar uma linguagem mais formal, a linguagem culta.

Veja este exemplo:

- Vocês vão ao cinema?

- Ela não lhe disse? Nós vamos acampar.

-Acampar? Só vocês dois?

É. Qual é o galho?

- Não...é que sei lá.

- Já sei o que você tá pensando, cara. Saquei.

- É! Você sabe como é...

- Saquei. Você está pensando que só nós dois, no meio do mato, pode pintar um lance.

- No mínimo isso. Um lance, até dois.

                                                                         Verísssimo, Luis Fernando. O Analista de Bagé. Porto Alegre. Porto Alegre. L&PM, 1981.

      Nesse diálogo foram utilizadas expressões e construções linguísticas coloquiais que em nada comprometem a comunicação entre os falantes. Na apresentação de um relatório, o uso dessas expressões seria um desastre. Observe:
       Durante o projeto, pode pintar um lance, a falta de verbas, por exemplo.  Esse galho, no entanto, pode ser resolvido se os diretores sacarem para a possibilidade de se recorrer a empréstimos estrangeiros.
     Durante o projeto, pode haver alguns obstáculos, a falta de verbas, por exemplo? Esse problema, no entanto, pode ser resolvido se os diretores atentarem para a possibilidade de se recorrer a empréstimos estrangeiros.

      Esses exemplos demonstram que é importante adequar o nível de linguagem à situação em que se produz o ato da fala. É importante o conhecimento da linguagem culta  para ter a possibilidade de expressar ideias de diferentes formas, de ampliar conceitos e, sobretudo, de ser mais bem compreendido.
    Quando falamos, as palavras saem espontaneamente, obedecem a estímulos variados, utilizamos palavras que fazem parte do nosso acervo vocabular que nem sempre são suficientes  para o próprio ato da fala. Já para escrever, precisamos organizar cuidadosamente o pensamento, buscar palavras e frases inteiras que representem ideias e exteriorizem sentimentos e manifestem desejos e vontades.

     Considerando essas diferenças não devemos pretender escrever como se fala, pois falar e escrever  são dois tipos de comunicação bem distintos. Escrever é o resultado de um processo de elaboração linguística, é uma tarefa que exige concentração, conhecimentos gramaticais, ainda que mínimos e, sobretudo, criação; é preciso criar um texto escrito.

     Os estudos dos aspectos da linguagem, falda e escrita, e das leis que a regem recebem o nome de gramática normativa. É essa gramatica oficial que estabelece os padrões cultos da língua. Paralela a essa  gramática existe uma gramática natural, isto é, estabelecida pelos próprios falantes da língua, como alerta o professor Celso Luft a seguir:

     Naturalmente , há variantes de gramática, conforme o grau de cultura ou nível sócio cultural do falante, mas todas elas, mesmo de nível mais baixo, são completas em si, dispõem de todos os elementos de que as pessoas necessitam para fazer frases e comunicar-se.

 LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade: por uma nova concepção da Língua materna e Seu Ensino, Porto Alegre, L&PM, 1985